terça-feira, 14 de junho de 2011

Amizades e amizades

 Entramos na loja de conveniências do posto de gasolina. A idéia era comprar uma garrafa de vinho para cada um, estávamos em cinco pessoas ali. Logo depois de nós, entrou uma guria e dois caras, todos com jeito de “mano” – mano e minas costuma ser o termo usado pra definir determinado estereótipo de alguns garotos e garotas, que normalmente inclui gostar de rap, usar roupas largas, bonés colocados de maneira excêntrica sobre a cabeça, as meninas com tranças e faixas no cabelo, um jeito de andar esquisito, como se tivesse com algum problema de postura e algum outro problema nas pernas, e um conjunto de gírias bastante peculiares. Começam a olhar as bebidas e eu percebo que um deles pega uma garrafa pequena de uísque e a coloca sob a blusa. Nesse momento meus amigos estão pegando as garrafas de vinho e levando ao balcão onde havia apenas um atendente. Fico indignado com a situação: “não vou deixar esses manos saírem daqui de boa com esse uísque enquanto nós estamos pagando pelo nosso vinho.” Fui até onde eles estavam. À medida que eu me aproximava, eles se afastavam da prateleira pelo outro lado. Quando cheguei na frente do uísque peguei uma garrafinha e coloquei sob a blusa também.
- O, Daniel! Passou o meu vinho aí já? Mas daquele outro, não esse de vocês. Depois agente acerta tudo.
- Ah! Que frescura Billy! Beleza.
Saímos da loja, eles vão para o carro do William. Eu passo pela janela do carona e jogo a garrafa no colo do Daniel.
- Da onde isso?
- Vamo sair fora.
Subo na moto e vamos para uma esquina próxima à casa de uma amiga beber nosso vinho – agora acompanhado de uísque.
- Ow! Não acredito que você pegou isso lá.
Eu explico toda a situação, que eu não poderia ficar de braços cruzados vendo os “manos” saindo com a bebida sem pagar enquanto nós, mesmo meio quebrados de grana, estávamos pagando.
 - Ah! Mas agora eu vo ficar louco Billy! Você sabe que eu não posso tomar uísque huahuahuahuahua.
William fala:
 - O Billy é foda! Huahuahuahua.
 E bebe um pouco do uísque, que foi aberto no carro mesmo. Juntam-se a nós, a Pauli – a amiga que morava na rua onde bebíamos - e o Leonardo – namorado dela -, e entregamos as garrafas de vinho que compramos para eles. Eu tive a infelicidade de escolher um vinho que não vinha com uma tampa fácil de abrir igual aos dos outros, o meu tinha uma rolha, e nós não tínhamos saca-rolhas. Tive que usar a velha técnica de prender a garrafa entre os pés, no chão, enquanto forçava a rolha para dentro da garrafa com a chave mais comprida que eu tinha, usando as mãos e apoiando o peso do corpo sobre elas. Tinha que ser rápido e com força - pra não machucar muito as mãos -, depois que a rolha entra, basta beber tomando cuidado para que a rolha não obstrua o gargalo da garrafa. Bebemos os vinhos. Depois de algum tempo de "treino", uma garrafa de vinho não é o suficiente para deixar uma pessoa totalmente feliz e nem por muito tempo, então preparamos um tubão:
 A definição que considero mais correta para “tubão”, é basicamente, qualquer bebida alcoólica misturada com qualquer refrigerante. A bebida alcoólica dever ser preferencialmente destilada e com mais de 30% de volume alcoólico, misturando-os numa proporção entre 70% e 40% de refrigerante – a variação fica a gosto e normalmente muda à medida em que se bebe. Essa é a receita clássica, mas há variações com bebidas mais fracas e suco substituindo o refrigerante, o que eu já classificaria como “suco gummy”. O nome “tubão”, imagino que tenha relação com a garrafa de dois litros de refrigerante usada em seu preparo. Quando há espaço suficiente na garrafa – o espaço algumas vezes é arrumado jogando fora uma quantidade do refrigerante, caso ninguém queira bebê-lo puro -, faz-se a mistura direto nela, assim fica o tubão preparado para beber direto no gargalo – os “manos” têm o costume de torcer e amassar a garrafa a medida em que ela vai esvaziando, não tenho certeza do porquê.
 Com uma garrafa de um litro de pinga e uma garrafa de refrigerante de dois litros sabor limão, preparamos o clássico drink em alguns copos descartáveis.
 Daniel visivelmente alterado - ja tinha acabado com a pequena garrafa de uísque quase sozinho:
 - Vamo beber lá na frente de casa!
 Eu peguei a minha moto e fui com a Carla, namorada do Daniel, na garupa. O Daniel e a Leni vão com o William no carro dele. A pauli vai no carro do Leonardo. Encostamos os carros e a moto próximos ao meio-fio, em frente à casa do Daniel. Preparamos mais alguns copos e ficamos conversando e bebendo.
A Leni, a Carla e o William estão na calçada em frente ao carro. Eu estou muito bêbado – assim como acho que estavam todos ali – entre o carro e a Carla, conversando com a Pauli. O Daniel conversa com o Leonardo, ambos sentados no meio fio, próximo à roda traseira do carro de Leonardo. A Pauli entra no carro do namorado pelo lado do motorista e liga o rádio. Eu abro a porta do carona e sento ao seu lado.
 Debruço-me sobre ela e a beijo.
 - Billy! Seu louco! O Leonardo ta aí fora.
 - Eu sei.
 E a beijo de novo. Nossos três amigos olham para dentro do carro parecendo um pouco surpresos, acho que não com o beijo, mas sim com o momento em que ele acontecia. Leonardo fala para Daniel:
 - O Daniel, você que é bem amigo do Billy, me responde uma coisa. Eu sei que ele e a Pauli são super amigos, tão sempre juntos, mas você não sabe se eles ficaram alguma vez? Sei lá... No tempo que eu e ela não tava namorando?
 Daniel percebeu os olhares estranhos voltados para o interior do carro e imagina o que está acontecendo ali. Ele olha para Leonardo e diz:
 - Ah, acho que nunca rolou nada não. Acho que eles só são bem amigos mesmo.
 A Pauli me empurra de vez para fora do carro, eu saio com meu copo vazio e me junto ao trio de amigos que estavam ali fora e encho mais um copo.

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