Esta
é uma pequena série de textos mostrando uma alternativa ao ponto de
vista consensual sobre o êxodo do Egito, o Egito e regiões próximas
nessa época e a formação da religião judaica, que por sua vez deu
origem ao cristianismo e ao islamismo. Os textos estão divididos em
duas partes. Esta segunda parte é dividida em seis partes menores.
Estes
textos são uma espécie de resumo, trechos retirados do livro
“TUTANCÂMON a verdade por trás do maior mistério da arqueologia”
(título original: Mercy), de Andrew Collins e Chris Ogilvie-Herald,
Editora Landscape, 2004. O livro é muito mais abrangente e detalhado
do que o mostrado aqui, com inúmeras referências e pontos de vista
alternativos sobre os temas abordados. Nesse resumo suprimi as
referências e adotei os pontos de vista escolhidos como mais
prováveis e necessários para o desenvolvimento do raciocínio dos
autores. Quaisquer dúvidas ou pedidos de referências podem comentar
que responderei.
Estes
textos, obviamente, estão aquém do original, no entanto, conseguem
mostrar satisfatoriamente que o que sabemos talvez não seja
exatamente da forma que pensamos ser. Para todos que se interessam
pelo Egito, religiões, História e pela incessante busca pela
verdade.
O
senhor das Montanhas de Shara
Além
do anfiteatro natural e do púlpito nas encostas de Umm al-Biyara,
Nielsen também encontrou pichações escavadas na face da rocha.
Pôde distinguir uma “cabeça de touro triangular com a meia lua
acima dela”, que ele afirmou ser parecida com exemplos encontrados
nos antigos monumentos árabes.
A
principal deidade nabateia era Dhushara, que significa “Senhor das
Montanhas Shara”, sendo Shara o nome aramaico do maciço de Seir.
Inicialmente, era representado apenas de forma abstrata, geralmente
um bloco retangular, com olhos e um nariz. Durante a ocupação
romana, Dhushara assumiu forma antropomórfica, que também se pode
ver em alguns santuários esculpidos na rocha em Petra e em seus
arredores.
Assim
como Yahweh, Sin e outros deuses da lua semíticos, Dhushara também
podia se relacionar com o touro do céu, cujo corpo era amontanha
sagrada e cujos chifres eram a lua crescente. Dessa maneira, vemos
que o deus nabateu das montanhas tinha muito em comum com Yahweh, a
deidade dos israelitas, que parece ter sido o genius
loci
do Monte Horeb, ou monte Sinai, a montanha da lua.
A
Adoração a Vênus
A consorte
de Dushara é lembrada em Petra pelo nome árabe pré-islãmico,
al-Uzza, e representada por um bloco em um betil (beth-el, em
hebraico, que significa “Casa de Deus”) com olhos, nariz e também
boca. Ela era a personificação do planeta Vênus. Seu nome pode
originalmente ter derivado do acádico uz,
que significa “bode”. Esse era o principal animal sacrificado às
diversas formas de Vênus em todo o Oriente Próximo, onde além de
al-Uzza ela era conhecida como Allat, Astarte, Atargatis, Ishtar e
rabbat
al-thill,
“a Senhora do Rebanho”. O símbolo de Ishtar-Vênus era uma
estrela de sete pontas inscrita em um círculo, e esse símbolo foi
encontrado em duas estelas esculpidas desenterradas em Harã, ao
passo que na arte grega há uma forma de Vênus (ou Afrodite) que
aparece montada em um bode, o que mostra seu vínculo com a
promiscuidade sexual. Aliás, na tradição cristã primitiva,
Ishtar-Vênus evoluiu para a Prostituta da Babilônia que, no livro
do Apocalipse, segura a taça das abominações e cavalga a besta do
apocalipse, que tem sete chifres. Ainda hoje em Petra vendem-se aos
turistas estátuas de bronze de al-Uzza, ou Allat, segurando uma
taça.
Parece
haver uma relação direta entre a adoração a al-Uzza e o bode
expiatório que Aarão mandou a Azazel no Monte Seir. O ritual do
bode expiatório pode muito bem ser uma lembrança confusa de
holocaustos com bodes feitos a uma forma bem anterior de al-Uzza,
talvez ligada com a crença erudita de que Yahweh tinha uma consorte
chamada Asherath, simplesmente um outro nome de Allat, ou Astarte.
Nielsen
propôs que a paisagem entre Petra e Jebel Hilal (hilal
significa “lua nova”) era a localização original do deserto de
Sin, ao passo que o Jebel Al-Madhbah de Petra era a “Montanha da
Lua”, portanto a verdadeira localização do Monte Sinai. Nenhum
estudioso moderno parece ter levado suas teorias a sério, apesar das
provas esmagadoras que demonstram que Petra era a antiga Cades.
O
Monte de Santo Aarão
Não
se sabe quando exatamente começou-se a associar a Jebel Harûn o
profeta Aarão, Nabi Harun, na tradição maometana. O nome da
montanha deriva do nome de Aarão, do hebreu, Aharon
(aramaico haroun)
traduzido como haron,
significando “altivo, exaltado”, ou “montanha de força”,
insinuando que o irmão de Moisés tirou seu nome da montanha. O
curioso é que o apelido iídiche do nome hebraico Aarão é Arke, o
nome antigo de Petra, coincidência que não podemos ignorar.
Segundo
o Deuteronômio, a vida de Aarão terminou no monte Hor (hor
significa apenas “montanha”),
e tanto ele quanto Moisés foram destinados a serem torturados,
avistando a Terra Prometida, mas jamais tendo permissão para entrar
nela. Antes de sua morte, Moisés contemplou a herança dos
israelitas do alto do Monte Nebo, no cume de Fasga, na terra de Moab,
antes de morrer ali. Antes, Aarão havia sofrido o mesmo destino,
depois de contemplar a Terra Prometida do alto do monte Hor. Assim,
sabendo que do pico de Jebel Harûn tem-se uma vista ininterrupta do
que fica além do Wadi Arabah, ou seja, Israel e a Palestina
modernos, uma identificação com o monte Hor é perfeitamente
possível.
Andrew
Collins ouviu o relato de uma lenda antiga que falava da presença da
tumba do profeta em Jebel Harûn. De acordo com ela, Nabi Harûn veio
do Egito em um cavalo verde voador! Cada vez que os pés do corcel
tentavam tocar num pico de montanha, a montanha desmoronava devido ao
peso. Isso aconteceu seis vezes, até finalmente o cavalo e seu
cavaleiro chegarem a Jebel Harûn, onde o animal finalmente conseguiu
aterrizar sem problema.
Trata-se
claramente de uma história fantasiosa e, no entanto, seu desvio
extraordinário da história tradicional subentende algum tipo de
origem independente. O cavalo voador verde, suas tentativas de pousar
nos cumes e o fato de Jebel Harûn ser vista como a sétima montanha
(sete sendo um número importante na cosmologia do Oriente Próximo,
na qual está ligado a Vênus e à cor verde) tendem a sugerir que a
lenda original não estava absolutamente ligada a Aarão. O mais
provável é que se relacionasse com alguma deidade pagã muito
antiga que se confundiu com a figura de Aarão em uma data bastante
posterior.
A
montanha que mais se destaca como possível candidata a monte Seir é
Jebel Harun, o monte Hor da Bíblia. Contudo, não podemos afirmar
com certeza se também era o monte Shara, uma vez que o templo
nabateu em Petra conhecido omo Qasr el-Bint, e que se pensa ter sido
dedicado a Dhushara, tem orientação no sentido norte, na direção
da moderna Jebel esh-Shara, “a montanha da qual ele era Senhor”.
Os autores têm certeza que a Montanha de Deus, onde Moisés recebeu
os Dez Mandamentos e conversou com Yahweh, combina muito bem com o
Jebel al-Madhbah de Petra, o Lugar Alto, ao passo que monte Hor e o
monte Seir, onde aconteceu o ritual do bode expiatório, são, quase
certamente, Jebel Harûn.
Os
Pés de Deus
De
acordo com o livro do êxodo, Moisés permitiu que seu irmão Aarão,
os dois filhos mais velhos deste, Nadab e Abihu, e setenta anciãos,
subissem ao “monte” de Yahweh. Diz-se que, ao atingir um certo
nível da montanha, eles viram “o Deus de Israel; e sob seus pés
havia como um pavimento de safira, pura como se fosse o próprio
céu”. Confirma-se que esse evento ocorreu no monte Sinai pelo fato
de depois Moisés ter ascendido ou “subido”, ao mesmo “monte”
na ocasião em que obteve as Tábuas da Lei.
No
chamado Vale Secreto da Pequena Petra, pares de pés foram escavados
nas faces rochosas, em geral na base das montanhas. Seu tamanho
grande, e o fato de sempre aparecerem em posição ascendente,
implica com toda a possibilidade que representem os pés de deuses,
ou de um único deus, que se considerava habitar a região. Para os
beduínos, os pés escavados na rocha são um sinal de que o lugar é
santo e que eles devem tirar os sapatos antes de prosseguir, como é
de costume nas mesquitas.
Um
fator significativo sobre os pés gigantes encontrados nas rochas em
torno de Petra é que alguns deles parecem infinitamente mais antigos
que o período nabateu. Um par está dentre as esculturas neolíticas
de uma cabra selvagem perseguida por caçadores, que antecedem a era
dos sahsu e dos edomitas em milhares de anos.
O
Ódio de Temã / As Origens de Esaú
A
animosidade dirigida contra os povos do Edom por esses primeiros
profetas judeus, só pode ter surgido de rancor contra o fato de
Moisés ter recebido as leis de Israel de uma montanha sagrada na
terra de Edom, que também se pode chamar de “monte Farã” ou
“monte de Esaú”.
Depois
da conquista de Canaã, a Bíblia praticamente não fala mais na
montanha de Yahweh. O mais provável é que isso tenha ocorrido
porque as rígidas leis religiosas implementadas pelos reis israelitas
e judeus posteriores não permitiam mais que se citassem as práticas
hebraicas de seus antepassados, os edomitas, descendentes de Edom, ou
Esaú. Edom significa, simplesmente, vermelho, com toda probabilidade
por causa da cor predominantemente vermelha dos penhascos de arenito
de Petra e seus arredores. Assim, Esaú ou Edom era simplesmente
outro nome para o genius
loci
da cidade, ou o “espírito local”. Dessa maneira, “monte Farã”
e “monte de Esaú” eram apenas nomes alternativos do monte Sinai,
em outras palavras Jebel al-Madhbah.
Esaú
também era, aparentemente, homônimo de um deus ancestral da raça
humana chamado Usous, ao qual se refere Filo, um historiador de
Biblos, na costa do Levante, que viveu no reinado de Adriano,
imperador de Roma, por volta de 120-140 d.C. De acordo com Filo,
sanchoniatho (historiador fenício, por volta de 1200 a.C.) alegava
que Usous era “o inventor das roupas para o corpo que ele fazia das
peles dos animais selvagens que conseguia caçar.” a esse respeito,
podemos lembrar que o nome de Esaú em Hebreu significa “peludo”.
Parte II-d: Yahweh na Cidade de Pedra
Parte II-f: Conclusões sobre Deus
Parte II-d: Yahweh na Cidade de Pedra
Parte II-f: Conclusões sobre Deus
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