quinta-feira, 5 de março de 2015

Decifra


 O que torna o outro interessante? Falarei por mim: O que me atrai é o erro, o diferente, o estrago. Nas palavras de William Maugham: "A perfeição tem um grave defeito: tende a ser enfadonha". Vou além: chega a ser irritante. A pessoa da moda - não por viver a moda mas por forjá-la -, a pessoa forçada, sem essência, vazia, não mostra nada se não essa casca na qual se envolve para “fazer sucesso”. Essa obviedade entediante, dissimulada: uma máscara, fraca e apática.

 São as particularidades que me fazem querer entender, conhecer. As atitudes loucas, as que fogem do senso comum.

A obviedade, a lógica preguiçosa, é fácil perceber. Mas a diferença... isso instiga. A dificuldade em conhecer e entender o outro, isso me acaba e me encanta. É um prazer doloroso – ou uma dor prazerosa.

 As similaridades aproximam, mas as peculiaridades fascinam - ou afugentam, claro, dependendo do quê e da intensidade. Assim, essas particularidades devem estar em consonância com as necessidades, em alguma medida.

 O cabelo perfeito, com a roupa perfeita, o comportamento perfeito, o sorriso perfeito... o perfeito chato. Mas aquele olhar que você não decifra, o jeito de andar, o pensamento que dá voltas por caminhos que você nunca imaginou: isso, sim, fascina.

 “Decifra-me ou te devoro”. Quero o que não se decifra fácil, e devoro - e quero devorar - enquanto decifro. O que eu já sei me entedia. Não é que eu busque o novo: nada disso. Gosto do complexo, das tonalidades e tensões que compõem a obra toda. Dos leves gostos perdidos no todo, os quais você tenta reconhecer, e eles ficam na ponta da língua e te fazem querer mais.

 É claro que não é do mesmo jeito com todo mundo. Há pessoas que são apaixonadas por esse ideal de... de seja lá o que for. Parece-me que pessoas pequenas de espírito é que se atraem por essa falta de “personalidade”. Essas, querem controlar – e um controle fácil: pessoas fracas.

 Gosto da autenticidade, da força, da personalidade de verdade. Gosto da pessoa realmente humana. Com todas suas excentricidades e disparates. O cheiro de carne e sangue, não o de plástico.

 Sinto-me um desbravador - ou pirata. Busco o horizonte, a luta, a vida. Sem medo, sem arrependimento, sem volta.

 Em suma: o que atrai - as pessoas de verdade – não é a perfeição. É o defeito. O defeito tolerável, sim - cada um com seus limites. Mas é ele que atrai e prende. Que venha o defeito, que o que vem é perfeição.

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